A gente assiste k-drama pra ver romance e homem lindo, certo? Nem sempre.
“Black Knight” cumpre um dos dois requisitos com louvor, porque Kim Woo-Bin (“Herdeiros”, “Amor e Outros Dramas”) e Song Seung-Heon (“Black”, “Player”) são representantes de respeito na área. Muito bonitos, o que não falta é fã desses galãs, que têm anos de estrada e carreiras indiscutivelmente sólidas.
Só que a Coreia não raro cria tramas feitas para refletir, para expor um traço podre da sociedade, para botar a nossa cabeça para funcionar. Então se o que você procura é um drama leve e fofinho, passe para o próximo da lista, mas se a opção for ação, trama bem criada e um agito para mentes letárgicas, dê o play em “Black Knight”.
Kim Woo-Bin é um entregador em seu caminhão solitário, em um futuro distópico no qual 99% da população mundial foi dizimada após a queda de um meteoro e consequente alteração atmosférica, que obriga a humanidade a viver no subsolo. A Coreia (Seul, no caso) encontra a solução pelas mãos da CheonMyeong, organização que fornece oxigênio e suprimentos para uma sociedade dividida em castas: cidadãos do núcleo, especiais, gerais e refugiados.
A primeira reflexão proposta é exatamente a escolha das castas: anos antes, teria havido um sorteio, e o resultado gerado a tal divisão. Por meio de um QR Code no dorso da mão (uma tatuagem), os cidadãos são reconhecidos como parte de uma das castas. Os refugiados são aqueles que não conseguiram um lugar nos demais abrigos. Refugiados por quê? O único crime deles é ser uma maioria que precisa lutar todos os dias para comer e não morrer exposta à atmosfera poluída, enquanto os cidadãos do núcleo vivem em uma ilusão de normalidade.
Antes de voltar ao entregador como personagem, é preciso esclarecer que não há nenhum cavaleiro negro na trama. Assim como ocorreu com “Round 6”, o nome original do drama é “O Entregador”. É, pois é. O entregador do Kim Woo-Bin é uma espécie de ídolo entre os humanos a quem leva suprimentos, mas nunca fica claro por quê. Já estou avisando, nem é spoiler, mas assim você não aguarda pela informação, como eu aguardei. Não que isso faça lá muita falta, é só uma observação. O “5-8″(é o nome do personagem) é tão admirado que algumas pessoas querem ser como ele. É o caso de Sa-Wol (Kang Yoo-Seok, “Luz em Mim”, “Apostando Alto”), jovem com uma história peculiar, que tem como maior objetivo se tornar um entregador. É claro que as coisas vão se complicar e logo os dois se encontrarão em circunstâncias adversas.
Sa-Wol é usado pela trama como uma ferramenta para que se compreenda a jornada de 5-8, ou algo que se pareça com isso, sem que tenhamos que ver com detalhes os perrengues de 5-8. Os dois passam por experiências distintas para chegar ao mesmo fim desejado, mas Sa-Wol é uma espécie de alegoria de um jovem refugiado em franca tentativa de escalada social, uma vez que isso vai significar a sua própria chance de sobreviver.
Ser privado do ar para respirar é uma clara reflexão sobre a pandemia, por exemplo, enquanto que a divisão por castas e quem ali terá mais oportunidades, qualidade de vida e poder aquisitivo olha para o capitalismo em face de um futuro pouco inclusivo. Quem tem o direito de respirar? O que aconteceria se a mesma sociedade que teve capacidade de escolha quando o assunto era sair de casa e expor-se ao risco de contrair um vírus letal não tivesse a mesma escolha se o algoz fosse um meteoro? Nas mãos de quem ficaria a decisão sobre a vida da população? Una-se a isso o fato de que as mentes por trás deste poder deveriam ser incorruptíveis e ali – como fora da telinha também – os poderosos estão bem longe deste comportamento.
Alguns pontos são deixados de lado para que se dê luz a tramas talvez menos interessantes do que seria se a história efetivamente girasse em torno de um entregador apenas, mas as possibilidades dramáticas são sempre infinitas e em “Black Knight” roteiro e direção decidiram por esse caminho. Não me cabe pensar no que poderia ter sido, mas apreciar ou não o que me é apresentado: efeitos especiais impecáveis, elenco afiado, soluções interessantes de cenografia, figurino de babar e uma mistura de “Jogos Vorazes”, “Round 6”, “1984”, “A Ilha” (o filme de 2005, com Ewan McGregor e Scarlett Johansson) e “Admirável Mundo Novo” em seis episódios ótimos pra maratonar.
Roteiro: 8,5
Direção: 9
Elenco: 9
Fotografia/arte: 10
Potencial de replay: ♥♥
Troféu: Cuidado com o futuro que vc deseja
Ship:Pfffff
Em um futuro distópico, um entregador leva suprimentos de oxigênio e alimento para uma população dividida por castas, que tenta sobreviver e se reerguer após a queda de um meteoro que dizimou 99% da humanidade. :.Vicki
Elenco: Kim Woo-Bin, Kang Yoo-Seok, Song Seung-Heon, Esom.
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