Esqueça a denominação ridícula de “telenovela” e a sinopse sessão da tarde do Google (só faltou dizer que é uma turminha do barulho). Itaewon Class é uma lição de empreendedorismo e de interpretação. Elenco sensacional, enredo pra maratonar pela madrugada adentro e uma das melhores trilhas sonoras que já ouvi. Itaewon Class está entre as séries obrigatórias pra quem já perdeu o preconceito e se jogou na fenomenal dramaturgia sul-coreana.

Mais uma série baseada em webtoon, Itaewon Class é um daqueles dramas que vão te fazer detestar personagens para sempre e passar muita raiva. 2021, quase pós-pandemia mundial, nada mais me surpreende, mas ver gente defendendo a Oh Soo-Ah chegou bem perto de me fazer cair o queixo. É bem verdade que, como acontece com os bons roteiros, não existe ali personagem perfeito. Não estamos mais na era Disney. Pessoas com defeitos também merecem ser felizes. Dito isso, sim, Jo Yi-Seo está longe de ser apenas “uma personagem feminina forte”, como se isso fosse um elogio acima de qualquer outra característica dela. Sim, lá no começo ela se declara sociopata, mas no que isso a desabilita de ser bem sucedida e merecer amor? Afinal, é exatamente disso que a série trata, de quanta pressão você suporta antes de quebrar, do que torna qualquer um de nós capaz de superar tsunami atrás de tsunami para conseguir aquilo em que acreditamos sem deixar de lado nossos objetivos, pendendo para onde a bússola moral de cada um possa apontar. Roteiro bom não é o que a gente torce pra acontecer, ele é o que é. E o roteiro de “IC” é complexo em sua simplicidade: até onde vai seu sendo ético? É um carvalho ou um bambu?

Itaewon Class não tem foco no romance, como os simplistas gostam de mencionar. A meu ver, o romance e até mesmo o tal triângulo amoroso estão pelo menos em terceiro plano. Olhemos para a aula de empreendedorismo, olhemos para a lição de honra, nobreza, caráter. A série é uma lição de pai para filho, mesmo que tenha sido um pai que sofreu por ser justo e seu filho que vai pelo mesmo caminho, pelo mesmo motivo. Mas não se engane: é o mundo que está errado e não pai e filho. A quem pertence o mundo e a quem deveria pertencer? E enquanto jogamos o jogo do mundo, não perpetuamos o erro que queremos ver corrigido? Veja bem: o lema da Jangga é “Os fortes comem os fracos”. Quem são os fortes? Quem lhes deu esse título? Seriam os fracos todos aqueles que não dançam conforme a música dos tais fortes? Forte é quem corrompe as regras e subjuga quem caminha em linha reta?

Se existem no dramaverso dois personagens de caráter inabalável, eles são Suk Dong-Chul (de “Save Me”) e Park SaeRoYi. E só por isso Itaewon Class já vale a vista. Eles sabem que não dependem da opinião alheia para serem aceitos pelo que são, para ter seu caráter validado; eles conhecem o seu real valor. E se aqueles que o cercam são movidos ou não pela mesma ética, a eles importa até a página 2, porque própósitos são para conquistarmos por nós mesmos. Se a ajuda de outros for possível, tanto melhor. Se o meu sonho atrapalha a alguns, sinto muito.

Se algum dia eu puder recomendar um kdrama, assista a Itaewon Class. Sim, mesmo que seja preciso respirar fundo várias vezes durante o primeiro episódio. Eu mesma larguei a série ali por um ano, creio, e a melhor decisão que tomei foi retornar.

Roteiro: 10

Direção: 11

Elenco: 300 (o papel da vida de Park Seo-Joon, sem sombra de dúvida)

Fotografia/arte: 10

Potencial de replay: ♥♥♥♥♥ (pretendo pular o primeiro episódio, no entanto. Desculpe aí, PSJ…)

Troféu: “minha vingança será maligna”

Ship: 10 (só assistindo pra saber, mas se NESSE você shippar errado eu vou ficar com um pouquinho de pena)