A lenda da Raposa de Nove Caudas é uma das mais comuns na cultura pop sul-coreana e vai sempre parar nos temas de séries que pendem para o lado sobrenatural e fantástico.
Shin Woo-Yeo é um gumiho arrependido de ter usado a energia dos humanos para manter a sua própria energia viva, principalmente porque, ao transferir a sua pérola para o humano que escolhe como “alvo”, a pessoa morre eventualmente por ter sua centelha de vida drenada. A pérola é como uma bateria, que abastece a raposa de nove caudas com energia vital e que ao mesmo tempo é uma medida de sua bondade, sabedoria e, em última instância, humanidade.
Após uma noite de bebedeira, a estudante Lee Dam e seu amigo Jae-Jin cambaleiam para casa. O moço desaba sobre o carro de um estranho que, para o azar deles, está ali ao lado, assistindo tudo. O rapaz não se abala tanto como fato, mas fica impressionado com a moça. Ela também se sente atraída por ele de cara. No primeiro de vários tropeções que você verá na série, Woo-Yeo impede que Dam caia, fazendo com que a pérola dele seja acidentalmente transferida para dentro dela. O que normalmente acontece por um beijo desta vez salta da boca de um para a boca do outro. Por força de fatos que se desenrolarão ao longo dos 16 episódios, Woo-Yeo precisa protegê-la e à pérola, então ele a leva para sua casa (daí o “colega de quarto” do título) na intenção de ficar de olho na garota.
Pois bem.
Antes de qualquer coisa, eu não posso negar que a sucessão de tropeços nos próprios pés cansa bem rápido. Por mais divertidamente desastrada que seja a personagem da Lee Dam, resolver uma situação por episódio com um ‘tropecei e caí no colo do moço’ enche o saco rapidinho. [O humor é marca registrada da Lee Hye-Ri. Eu sou muito fã dela exatamente por isso: ela não tem medo de ser ridícula, de ser patética, não se incomoda de não ser sempre a lindinha. O melhor exemplo é o sensacional “Reply 1988”]
Que isso não faça as românticas, românticos e romântiques desistirem de assistir a essa série, porque a melhor parte de um romance, na minha opinião, está todinha ali: a construção do clima entre os dois, que dá aquele arrepio delícia em TODOS os episódios. Os olhares, as palavras não ditas, o medinho de ‘será que sim, será que não’, o chegar pertinho e ficar no quase… Olha, prepare-se para suspirar.
O modelo que virou ator [impossível não notar, sabe?] Jang Ki-Yong é total responsável por isso. O Woo-Yeo dele é misterioso na dose certa, sente amor, dor, frustração e força sem perder a medida. Eu não o conhecia, mas se todos os personagens dele tiverem a vulnerabilidade que esse gumiho tem, é um cara a ser observado de perto. Ele tem o porte e a postura de uma criatura mítica, a inocência de quem não entende bem o que é ser humano, como essas tais criaturas mortais funcionam e por isso os observa como se estivesse nos olhando por um microscópio. Já no caso da Lee Dam, eu acho difícil não simpatizar com ela, alegre, boa amiga, leal, que abre mão de comer frango e beber cerveja só porque esse esquisitão quase desconhecido pede. As cenas em que ela precisa se desviar dos “tigres” são hilárias.
O universo próximo dos dois é parte importante da trama. Tanto o amigo dela da faculdade quanto a gumiho recém-tornada humana Hye-Sun, que ajuda Woo-Yeo a navegar por essa trilha rumo à humanidade, tornam “Meu colega de quarto é um Gumiho” bem divertido. O ritmo geral perde um pouco o fôlego na segunda metade. É comum o argumento se esgotar e ali pela metade da trama começar o “troféu barrigão”. Vários classicões sofrem desse mal, mas aqui não é exatamente o caso; a velocidade diminui perceptivelmente, mas segue interessante, já que um baita revés aparece na forma de um fato (um gato, na verdade), que nos faz xingar em voz alta. A gente afinal gosta ou não gosta do tal do destino? (Vicki)
Por que sim: “…Gumiho” é bem engraçado e tem uma excelente construção do clima romântico. Fique de olho no beijo do momento de “fome” e depois me conte o que achou. O elenco em sua maioria brilha, em especial os casais. O amigo dela, Do Jae-Jin, é uma presença boa na tela como o aparentemente último namorado legal da face da Terra, mas que vive caindo na mão de mulher podre (quem não conhece um desses?). A gente se pega torcendo para que não aconteça de novo.
Por que não: A primeira metade tem ritmo melhor que a segunda, é bem verdade. É como eu disse aí pra cima: em alguns momentos, parece que a trama segue o caminho mais fácil e menos criativo e dá-lhe o tropeça e quase cai; dá-lhe a explicação que vem com um “porque sim e pronto” de um espírito. Não chegam a atrapalhar muito, mas estão lá e incomodam. Tudo bem que o espírito é o ótimo Go Kyung-Pyo (Chicago Typewriter, Reply 1988), sempre um talento bem-vindo, mas… Ah, preciso dizer que eu nem sempre sou fã do triângulo amoroso. Aqui, o megapopular fora e dentro da trama Bae In-Hyuk (que faz o desejado-por-todas Gye Seon-Woo) faz pouca diferença na trama, no final das contas. Como eu sei que muita gente AMA esse tema, talvez só eu o coloque no “por que não”. Sinto muito, mas eu simplesmente não acho que a Park Kyung-Hye combina ali como estudante universitária. Primeiro porque as tiradas iludidas dela parecem “zoação com a personagem feia” que eles tanto adoram mostrar (e eu detesto) e que ela sempre acaba fazendo e porque eu acho que ela não aparenta mesmo ter idade pra isso, principalmente depois de já a termos visto como uma mulher mais madura em N dramas. Idade aparente é uma praga do mercado de atores, mas existe.
Roteiro: 7,5
Direção: 7,5
Elenco: 8
Fotografia/arte: 9 (Seul é lindinha pelos olhos dessa série)
Potencial de replay: ♥♥♥(eu devo voltar pelo menos para rever umas ceninhas ali…)
Troféu: Troféu Química, Química, Química! Trofèu bro-sismance (Woo-Yeo e Hye-Sun, a recém-humana, conversam e discutem como dois bros. Que ela não me ouça)
Ship: 10 (já comentei da química, né?). O segundo casal é bem gostoso de ver também.
Shin Woo-Yeo é um gumiho (raposa de nova caudas, criatura mítica do folclore coreano) de 999 anos que está prestes a se tornar humano. Ou pelo menos é o que pensa, já que logo descobre que seu destino pode ter outras variáveis que ele não imaginava. Os gumihos têm dentro de si uma pérola, que transferem para humanos por meio de um beijo quando precisam da energia deles. A história começa quando a pérola de Shin Woo-Yeo vai parar acidentalmente em Lee Dam, uma estudante universitária molecona e divertida, que precisa se mudar para a casa dele, já que a pérola é de extrema importância para ele e porque pode ser eventualmente fatal para Dam. Baseada em um webtoon, “Meu colega de quarto é um gumiho” é da safra 2021 de dramas sul-coreanos.
Elenco: Lee Hye-Ri (Lee Dam), Jang Ki-Yong (Shin Woo-Yeo), Bae In-Hyuk (Gye Seon-Woo), Kang Han-Na (Yang Hye-Sun), Kim Do-Wan (Do Jae-Jin). Participações especiais de Go Kyung-Pyo (se todo espírito que me aparece tivesse ~essa~ forma…) e Jung So-Min (spoiler por si só).
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