Round 6

  • Nota site

10

10/10
  • Elenco

    Principal

Com elenco afinadíssimo e roteiro surpreendente, “Round 6” completa um mês de exibição com a marca de série mais assistida na história da Netflix. Se são números que vêm do hype ou do interesse na qualidade do drama jamais saberemos, mas o fato é que esta serve como uma excelente porta de entrada para que se conheça a dramaturgia de um país que é bem mais que isso, além de dar a nós, kdrameiros, a chance de dizer com um sorriso: “Gostou? Tem muito mais de onde saiu esse aí”. Da própria Ásia vem a japonesa “Alice in Borderland” (essa sim, um “dorama”), que vem sendo comparada a “Round 6” pelo tema de jogos nos quais se disputa o direito de permanecer vivo. Fica o convite para navegar pelo nosso site e escolher o seu próximo kdrama dentre as dezenas que já resenhamos. Ou me encontre nas nossas redes sociais, porque eu vou adorar indicar um sob medida pra cada gosto.

Antes de qualquer outra coisa, aceite que você viu e adorou um típico kdrama. “Round 6” é kdrama, sim. Porém nem só de “Round 6″s vive a Coreia do Sul hoje, embora grande parte de seu apelo dramático se deva ao fato de ser uma produção coreana. Comecemos pela exaltação da tão relativa beleza física, fator que derruba carreiras, define virtudes e alavanca casamentos, promoções, parcerias. Não que o Ocidente não faça isso, obviamente, mas é comum ouvir num drama coreano frases como “Eu gosto dele, confio nele, porque ele é bonito”. Não raro enredos têm nessa premissa a própria reviravolta, quando, para a surpresa de todos, o bonitão é um vilão capaz de atitudes indizíveis. Vista todos os personagens com um agasalho verde horroroso e nem a “próxima top model da Coreia” – como tem sido chamada Jung Ho-Yeon, que faz Kang Sae-Byeok – escapa do balaio de “gente feia com cara de pobre” dos 456 jogadores. Tire o dinheiro como prova de caráter – comum também à dramaturgia coreana de massa, tema recorrente nas séries do tipo mais novelão – e você terá “Round 6”, com seus endividados, fugitivos, imigrantes, valentões, espertinhos e maus pagadores se achando incríveis pela oportunidade de ouro de ganhar bilhões “passando a perna nos outros”. No Brasil não seria diferente.

A bradada crítica social vai além do batido “o que você faria por dinheiro?”, mas surge na exposição de quem é o real mal. A pergunta é: Você quer mesmo matar o coitado que se aperta ao seu lado no ônibus todo dia ou os 5% detentores de toda a riqueza do mundo? O mau caráter é o fracassado que aposta nos cavalos em vez de pagar o plano de saúde da mãe ou um daqueles animais mascarados? Pra quem ainda não viu, isso não é um spoiler propriamente, mas mais um convite a já começar a assistir com esse pensamento ali no fundinho da mente.

 

Batatinha frita 1, 2, 3: Pode haver spoilers mais pesados daqui pra frente.

 

Ninguém foge ao apelo de crítica social do enredo. A violência da quantidade de dinheiro necessária para a produção dos jogos é muito maior que literais miolos espalhados pelo chão. Aliás, tiremos da frente esse assunto: “Round 6” é bem menos violenta e sangrenta que 80% dos filmes e séries hollywoodianos; talvez seja apenas a xenofobia atrapalhando a visão de muitos, mesmo. Na minha opinião, foram três os reais momentos de violência na série: 1) quando um dos mascarados diz que pode afirmar categoricamente para o policial que o cadáver era de uma mulher, “porque eu e os caras a estupramos”, 2) quando vemos a mão de um sobrevivente tentando sair de um caixão de presente, antes de ser devolvida para dentro e a caixa ser lacrada e ir para o forno e 3) quando a mão do chefe de Ali fica presa na prensa. Não só dramaturgicamente dispensáveis, mas momentos que servem ao gore do cinema moderno. A série já choca por si só.

Choca porque muito mais que a visão de uma mão sendo esmagada, “Round 6” mostra uma evolução no enredo com a chegada dos tais “VIP”s, tão horrorosa quanto o fato de que os órgãos de vários jogadores são destinados ao tráfico. O que poderia parar na carnificina rasa toma ares de entretenimento para seletos apostadores, que investem fundos para que o evento aconteça anualmente há um bom tempo, regado a champanhe, sala privativa e torcida por esse ou aquele jogador. A violência está justamente em gostar de assistir à morte ao vivo, “querer ver o oco” e igualar-se à condição dos VIPs; afirmar que os jogadores “estão lá porque querem”, o que só seria verdade se houvesse oportunidades justas na sociedade. A renda daqueles VIPs provavelmente resolveria os problemas financeiros dos 455 jogadores necessitados. O próprio orçamento para a mera existência dos jogos o faria com folga! A falta de dinheiro não é o que ameaça a moral de alguém, mas a falta total de oportunidades certamente torna o mal uma tentação. O poder, no entanto, facilita a inclinação à corrupção. Assim em “Round 6” como em quase todo o planeta. Momento oportuno inclusive para comentar que o “doce velhinho” Il-Nam não me enganou em momento nenhum. Talvez por estar escolada em mais de 120 kdramas até o momento, mas quando não se viu o Jogador 001 ser efetivamente baleado, minha teoria de que ele tinha algo a ver com o jogo se confirmou. “Ah, você diz isso agora. Assim fica fácil!”. Se você já assistiu à série, ouça o NoonaCast que gravamos logo depois da estreia. Eu só tinha visto 6 episódios e já cantei essa bola. O link está aqui na matéria.

A própria dinâmica do enredo faz com que a maioria de nós tenda a se identificar com os jogadores ou com o policial (Wi Ha-Jun tem mais de um motivo para ser o novo crush do mundo, afinal), mesmo conhecendo tão pouco sobre eles – detalhe que eu achei fantástico, porque nos mantêm torcendo ou jogando no abismo quem comunica algo ao nosso mapa de valores pessoal. Argumentos para defender esse ou aquele não faltam: “Tem que chegar e se aliar com todo mundo, mesmo” (ainda que todos saibam que só um vai sobreviver e eventualmente você estará dormindo em um ninho de cobras? Curioso como mesmo neste cenário encontramos o tipo líder e o tipo servil), “Tem que mostrar quem é o mais forte” (mesmo que logo você seja alvo do ódio de todos e não possa mais nem dormir?), “Fiquei com dó do velhinho” (mesmo quando ele, à beira da morte, ainda aposte a vida de outra pessoa?). Houve ainda também quem dissesse que é “tudo muito manjado”. A esses, eu diria que “Round 6” não é um jogo de adivinhação. O foco é muito mais cirúrgico: o importante não é descobrir a informação, mas o que você faz com ela.

Roteiro: 10

Direção: 200

Elenco: 4000

Fotografia/arte: 10

Potencial de replay: não, né? Uma vez basta.

Ship: Round 6 não tem disso, não!

 


Multimidia

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Sinopse

Um jogo de vida e morte com prêmio bilionário em dinheiro. 456 pessoas movidas pelo desespero e pela ganância aceitam se enfrentar em jogos infantis tradicionais com detalhes mortais.

Elenco: Lee Jung-Jae (Seong Gi-Hun), Park Hae-Soo (Cho Sang-Woo), Jung Ho-Yeon (Kang Sae-Byeok), Wi Ha-Jun (Hwang Jun-Ho), Oh Young-Soo (Oh Il-Nam),  Anupam Tripathi (Ali Abdul)

Detalhes técnicos
  • Nota MKD

    10

  • Avaliação do público

    8.4

  • Estreia

    7 April 2021

  • Diretor

    Hwang Dong-Hyuk

  • Roteirista

    Hwang Dong-Hyuk

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