Crítica – O show da banda 2Z em São Paulo

Boa 3

Os alienígenas do planeta 2Z aterrissaram no Brasil pra trazer um pop/rock de qualidade pra São Paulo, após fansigns no Rio de Janeiro, Recife e Fortaleza. Na turnê “A Crash Landing” (“Um pouso forçado”), os músicos interpretam agentes extraterrestres que respondem a um pedido de socorro enviado pela Terra e partem em missão de curar o nosso planeta com sua música. Ao longo do show, as canções marcam momentos da viagem e do seu propósito, que reforça que a banda é conhecida como “os meninos que cantam esperança”.

Na estrada desde 2020, a 2Z (ou Tu:Zi – a ideia é pronunciar como “a Z” em inglês, no sentido de “De A a Z”) é formada por Hojin no vocal principal, Jiseob na guitarra, Junghyun (que é também o rapper da banda) no baixo, o DJ Zunon, que faz teclados, bateria eletrônica e efeitos, além do baterista queridinho das multidões BumJun. Todos os integrantes fazem participações nos vocais em várias canções.

Logo na abertura, duas das músicas mais populares da banda: “Doctor” (clique para ver o mv oficial), seguida de “O@sis” (idem), rocks ótimos pra dançar, que levantaram a fanbase animada que lotou o Teatro Gamaro na noite de sexta-feira, 17 de junho. Logo descobriríamos que a balada “Behind Cut” (que faz parte da OST do drama homônimo, no qual o baterista BumJun havia trabalhado como ator) também não só arrancaria reações apaixonadas como foi o motivo que levou muitos, muitas e muites ao show. Foi o caso de Naíla Lepre, fã declarada de dramas BL (sigla para boy love, ou dramas que retratam um romance entre homens), que foi ao show após assistir a “Behind Cut” e ter se interessado pela música da 2Z e pela atuação de BumJun na tela. Outra balada que encantou foi “All I Need” faixa da OST de um filme também BL, “The Tasty Florida”. O fandom (conhecido como “FromA” – “De A”) mais uma vez ergueu os braços pra acompanhar a melodia suave e o vocal preciso do carismático Hojin, que mostrou muita presença de palco e um jeitão meio Brendon Urie (vocalista do Panic! At the Disco, o que é um baita elogio!), e teve a plateia na palma da mão desde o primeiro acorde. Hojin conversou com os fãs em vários momentos, confessando que todos estavam animados e ansiosos pra vir ao Brasil. Disse também que os integrantes ficaram tristes ao saberem que Recife havia passado por uma enchente poucos dias antes de a banda chegar na cidade. “Ficamos pensando como iríamos consolar vocês. Nós cantamos com esperança e queremos curar vocês com a nossa música”, concluiu. Lembrou que seu pai costumava ser “uma barreira de proteção” quando ele estava com dificuldades e declarou que gostaria de ser essa barreira de proteção para os fãs.

Sucesso atrás de sucesso (“25”, “My 1st Hero”, “Not Without U”, “It is U” e por aí vai) empolgados pela famosa resposta do público brasileiro, os integrantes entregaram uma performance simpática, cheia de energia, sorrisos e elogios, que foram de “Este é o melhor público que tivemos até hoje” e “Eu quero morar no Brasil” a “A plateia de hoje jamais sairá da nossa memória” ou ainda “O Brasil é ‘de milhões’!”, além da promessa de retorno em breve.

Do lado de cá choveram homenagens, na forma de manifestações em banners, corações, luas, bastões de luz colorida e lanternas de celular acesas, além de coros em todas as músicas. Fã brasileiro DECORA A LETRA, estão achando o quê? Em determinado momento, houve uma pausa para que fãs dançassem para a banda, numa interação divertida e inusitada.

Covers? Tivemos! A 2Z já havia viralizado um mês atrás com um cover de “A Queda”, de Glória Groove. Impressionante em mv, ficou poderosa ao vivo; “Despacito” (sim!), de Luis Fonsi e Daddy Yankee, levantou todo mundo e também deve ter sido ouvida de fora do teatro, porém não mais que a versão funk/rock de “Butter”, do BTS, berrada a plenos pulmões por todo mundo ali dentro.

A tradição do k-pop como catalisador de processos de amor próprio e autoestima segue firme: em outra das várias passagens emocionantes, o baixista Junghyun pediu um momento para agradecer a presença de Flavia, uma jovem com deficiência que estava na primeira fila. O músico se curvou 90 graus e se disse honrado por tocar para ela, que tinha dançado e curtido o show todo. E do lado de fora foi possível ouvir que a 2Z, assim como outros músicos vindos da Coreia do Sul, é responsável por processos de cura e aceitação de si e dos outros, confirmando o tema do show. Mirela, 26 anos, que lida com a depressão, levou a família e uma vizinha ao show: a mãe, Kelly, o pai, Sílvio, e a vizinha Natália estavam presentes após terem sido apresentados por ela ao 2Z. Kelly e Sílvio têm buscado participar dos gostos da filha como forma de melhorar a comunicação e acabaram gostando da banda. “Eu fiquei impressionada,” declarou Kelly. “Eu gosto deles, mas não imaginava que a apresentação seria tão boa”. O pai, Sílvio, que foi vocalista de uma banda punk hardcore na juventude, admitiu que “meus ex-colegas de banda iriam estranhar minha nova fase k-pop, mas eu estou adorando. A música tem qualidade”. Perguntei a Mirela se ela tinha um bias no 2Z. Ela disse que não. “E no BTS?” Ela abriu um sorriso e disse:

– Sim!

Eu me animei e segui em frente:

– Quem é o seu bias?

– O Suga! – ela respondeu, sem hesitar.

– E como foi quando a 2Z tocou “Butter”?

– Foi mágico!

Olhei para os pais dela pra seguir com os depoimentos e ouvi de Sílvio, que tinha os olhos marejados:

– Estas foram as primeiras palavras que ela disse hoje.

 

É o poder da arte, da música, mas que esses tais sul-coreanos têm uma magia especial, disso não resta mais dúvida.

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